Verdade sobre o glúteo
O glúteo é considerado um dos músculos mais importantes do corpo humano, sendo responsável pela estabilização do tronco, mantendo a coluna direita durante o movimento, e é fundamental na força de impulsão das pernas, auxiliando nas situações de sentar e levantar.1
Juntamente com os músculos do abdominal, os glúteos são um grupo muscular responsável por sustentar a coluna tanto em posturas estáticas como dinâmicas, o que oferece um auxílio crucial na manutenção e suporte da estabilidade. Sendo um grupo muscular localizado na face posterior da região pélvica é de se esperar que desempenhe um grande papel na estabilidade da passada e no amortecimento, capacidades fundamentais no quotidiano.
Desta forma, o glúteo divide-se em três porções: máximo, médio e mínimo.2
O glúteo máximo é considerado um dos maiores músculos do corpo humano, o que lhe possibilita a obtenção de grande quantidade de força. 2 O seu tamanho e disposição conferem-lhe características que tornam possível ao corpo manter uma postura direita tanto a nível da pélvis como do resto do tronco, principalmente durante tarefas que exijam esforço de deslocação ou mudança de nível como subida de degraus ou rampas.3 Atuando em três planos de movimento da anca, é de se esperar que o glúteo máximo atue na estabilização da zona pélvica quando estamos num só apoio, impedindo a coxa de rodar para dentro o que significa evitar desgaste na articulação coxofemoral, um problema bastante comum principalmente em idades mais avançadas.4
Quando o glúteo máximo não funciona da forma adequada, todo o movimento pelo qual é responsável é concretizado na mesma. Isto porque o sistema nervoso central trata de compensar os movimentos através da ativação de outros músculos próximos da região, e isto pode levantar diversos problemas. A inatividade do glúteo, juntamente com estas compensações, pode resultar numa sobrecarga biomecânica crónica, o que por palavras menos científicas significa tensão muscular, nomeadamente em zonas como a região lombar e até mesmo desestabilização em algumas articulações como o joelho e o tornozelo.4
Já as porções do glúteo médio e mínimo ficam parcialmente sobre o glúteo máximo e são muito importantes no equilíbrio, amortecimento e coordenação unilateral que é fundamental em diversas modalidades e tarefas.2 O glúteo médio é um dos principais responsáveis pela rotação externa da anca, o que faz com que toda essa zona fique mais estável e melhor posicionada. A presença de forças de impacto durante um certo movimento, ou seja, quando a perna aterra no chão, a porção média do glúteo, em sinergia com a porção mínima, é das principais responsáveis pela sustentação de toda a zona pélvica. Consequentemente, estando a pélvis bem estabilizada, também outras articulações próximas beneficiarão, como a coluna e o joelho.5 Quando estas duas porções do glúteo não funcionam de forma adequada, algumas consequências podem estar relacionadas com desníveis da anca e da coxa. Estes desníveis podem ser potencialmente problemáticos quando desempenhamos atividades que exijam repetição mecânica como a marcha e a corrida. Mantendo estes padrões desajustados a médio-longo prazo, pode surgir algum desconforto e dores na anca e no joelho, que tendem a agravar-se com o tempo.5
O glúteo é um dos músculos principais que entra em ações mecânicas como o agachamento ou peso morto. E é por isso todos nós somos fascinados por treinos que envolvam estes exercícios, pois sabemos que estamos a trabalhar este grupo muscular. Esta obsessão provavelmente começou quando o Homem transitou para a posição bípede há milhares de anos atrás. Nessa Era, encontrar um parceiro de acasalamento com um “bom glúteo” não apelava apenas à estética, mas como também significava que seria um parceiro capaz de caminhar com eficácia durante longos períodos assim como correr atrás de comida, que era escassa. Nesta altura, não se via necessidade de dar tanta atenção a este grupo muscular pois era constantemente usado. Contudo, devido ao quotidiano que o ser humano leva atualmente, o glúteo tornou-se mais inativo. E como já se viu acima, um glúteo inativo pode ter algumas consequências. E é certo que várias patologias e dores vieram a aparecer como dores lombares, instabilidade na anca.
Desta forma, treinar bem o glúteo transcende o simples benefício estético. Trata-se de um músculo que nos irá impulsionar para um nível de condição física superior, tornando-nos mais eficientes em tudo o que fazemos tanto no treino como no dia-a-dia.
Bons treinos!
Referências Bibliográficas
1 Delecluse, C. (2012). Influence of strength training on sprint running performance. Current findings and implications for training. Sports Medicine, 147-156.
2 Reiman, M., Bolgla, L., & Loudon, J. (2011). A literature review of studies evaluating gluteus maximus and gluteus medius activation during rehabilitation exercises. Physiotherapy Theory and Practice, 257-268.
3 Delavier, F. (2006). Guia dos movimentos de musculação. Brasil: Manole Ltda.
4 Buckthorpe, M., Stride, M., & Villa, F. D. (2019). Assessing and treating gluteus maximus weakness: a clinical comentary. The International Journal of Sports Physical Therapy, 655-669.
5 Moore, D., Semciw, A., Wisbey-Roth, T., & Pizzari, T. (2020). Adding hip rotation to therapeutic exercises can enhance gluteus medius and gluteus minimus segmental activity levels – An electromyography study. Physical Therapy in Sport, 157-165.