Benefícios do exercício físico no controlo metabólico da diabetes tipo II
A adoção e manutenção da Atividade Física são focos críticos para o controlo da glicose no sangue (glicémia) e da saúde geral em indivíduos com diabetes e pré-diabetes, sendo que, as suas recomendações e precauções devem variar de acordo com as características individuais e o estado de saúde em particular.
Os principais tipos de diabetes são o tipo 1 e o tipo 2, sendo que, também pode ocorrer o diabetes gestacional e o estado pré-diabético.
O diabetes tipo 1 (que corresponde a 5% a 10% dos casos) resulta da destruição autoimune das células beta pancreáticas, produzindo deficiência de insulina. Embora possa ocorrer em qualquer idade, as taxas de destruição destas células variam, ocorrendo, geralmente, mais rapidamente na juventude do que na fase adulta.
O diabetes tipo 2 (que corresponde a 90% a 95% dos casos) resulta de uma perda progressiva da secreção de insulina, geralmente também com resistência à insulina.
O diabetes gestacional ocorre durante a gravidez, com a triagem geralmente prevista entre 24ª e 28ª semanas de gestação.
O estado de pré-diabetes é diagnosticado quando os níveis de glicose no sangue estão acima da taxa normal, mas não são altos o suficiente para serem classificados como diabetes. Os indivíduos afetados têm maior risco para desenvolver diabetes tipo 2, mas podem prevenir o seu aparecimento com alteração do seu estilo de vida, entre elas a inclusão da prática de exercício físico e aumento da atividade física na sua rotina semanal.
A Atividade Física inclui todo o movimento corporal que exige o uso de energia, aumentando assim o gasto enérgico comparativamente aos períodos de repouso (em que estamos parados, sentados, deitados ou reclinados).
O Exercício Físico é uma atividade física planeada, estruturada, delineada no tempo e realizada com vista a o alcance de um objetivo especifico. O Exercício Físico melhora o controlo da glicémia na diabetes tipo 2, reduz os fatores de risco cardiovascular e contribui para a perda de peso e melhoria do bem-estar.
A prática de exercício físico regular pode trazer benefícios consideráveis à saúde de pessoas, como por exemplo, na melhoria da aptidão cardiovascular, da força muscular e da sensibilidade à insulina, podendo também impedir ou retardar o desenvolvimento de diabetes tipo 2.
Os desafios relacionados à gestão da glicose no sangue variam, de acordo, com o tipo de actividade, com o tipo de diabetes, e com as possíveis complicações relacionadas ao diabetes. Neste sentido, as recomendações de atividade física e exercício, devem ser adaptadas e individualizadas, para atender às necessidades específicas de cada indivíduo.
Existem dois tipos de exercício físico que podem ser especialmente benéficos perante um quadro clínico de diabetes.
O Exercício físico aeróbio:
Em geral, o treino aeróbio melhora:
- Densidade mitocondrial (responsável pelo processo de obtenção energética na presença de oxigénio);
- Sensibilidade à insulina;
- Enzimas oxidativas (aceleram as reações metabólicas);
- Disponibilidade dos vasos sanguíneos;
- Função pulmonar;
- Função imunológica;
- Débito cardíaco.
O volume moderado a vigoroso de exercício aeróbio está diretamente associado à redução do risco cardiovascular e de mortalidade, tanto na diabetes tipo I, como no tipo II.
Na diabetes tipo I, o treino aeróbio aumenta a aptidão cardiorrespiratória, diminui a resistência à insulina e melhora os níveis lipídicos (gorduras) e a função endotelial1. Em indivíduos com a diabetes tipo II, o exercício aeróbio regular reduz a A1C2, triglicéridos3, pressão arterial e resistência à insulina.
Como alternativa, o treino intervalado de alta intensidade (HIIT) promove um rápido aprimoramento da capacidade oxidativa do músculo esquelético4, sensibilidade à insulina e controlo glicémico em adultos com diabetes de ambos os tipos.
1 Endotélio – camada de tecido de células finas que reveste a parede interna de todos os vasos sanguíneos.
2 Teste realizado para avaliar o controlo glicémico, ou seja, a quantidade de açúcar no sangue, da pessoa com diabetes, reflete os níveis glicémicos dos últimos 3 a 4 meses da hemoglobina HbA1C e revela se está realmente controlada a diabetes.
3 Gorduras que resultam da transformação de alimentos que ingerimos, nomeadamente hidratos de carbono e gorduras que circulam no sangue. Constituem uma reserva de energia para o nosso organismo feita a partir das calorias a mais.
4 Utiliza o oxigênio como principal fonte de energia.
Exercício físico de força:
A diabetes é um fator de risco no declínio acelerado da força muscular e do estado funcional. O treino de força para adultos beneficia os seguintes aspetos:
- Incremento de massa muscula
- Composição corporal;
- Força;
- Funções no quotidiano;
- Saúde mental;
- Densidade mineral óssea;
- Sensibilidade à insulina;
- Pressão arterial;
- Perfis lipídicos;
- Saúde cardiovascular.
Os benefícios do treino de força em indivíduos com diabetes tipo II incluem melhorias no controlo glicémico, resistência à insulina, decréscimo de massa gorda, pressão arterial, força e aumento da massa isenta de gordura.
Yardley et al. (2012) sugerem que indivíduos treinados portadores da diabetes e que tendem a desenvolver hipoglicemia associada ao exercicio, devem considerar realizar exercícios de força em primeiro plano e posteriormente exercicio aeróbio, pois poderá atenuar o declínio dos níveis de glicose durante o exercício aeróbico posterior. Este método de treino pode levar a uma menor dependência da suplementação de glicose durante o exercício e também pode diminuir a gravidade da hipoglicemia noturna. Por outro lado, sugerem que indivíduos com hiperglicemia associada ao exercício, devem optar por realizar exercícios aeróbicos antes do treino de força, sendo que ambas as abordagens devem ser acompanhadas por um cuidadoso monitoramento dos níveis de glicose no sangue, durante e após o exercício.
Referências bibliográficas
https://care.diabetesjournals.org/
https://www.todamateria.com.br/
Yardley JE, Kenny GP, Perkins BA, et al. Effects of performing resistance exercise before versus after aerobic exercise on glycemia in type 1 diabetes. Diabetes Care 2012;35:669–675