Hoje em dia encontramos no supermercado uma enorme variedade de produtos alimentares, como iogurtes, gelatinas, néctares, chocolates, barras proteicas, que nos são apresentados como sendo “zero açúcar” ou “sem açúcar” e que mantêm um sabor doce, tal como os produtos alimentares que lhes são equivalentes mas com açúcar na sua composição. Na maioria destes produtos alimentares com sabor doce mas sem açúcar adicionado, encontramos certamente, na sua lista de ingredientes, adoçantes ou edulcorantes. Os adoçantes são substâncias que mimetizam o efeito do açúcar a nível do paladar e podem ser divididos em dois grupos principais: os adoçantes não calóricos ou não nutritivos, como o aspartame, a sucralose, o acessulfame-K, o ciclamato, a sacarina e a stevia; são adoçantes com uma capacidade adoçante muito superior à do açúcar, daí serem utilizados numa quantidade muito inferior à que seria necessária em açúcar para conferir o mesmo grau de sabor doce. os adoçantes de baixo valor calóricos ou polióis, como o xilitol, o maltitol, o isomalte, o sorbitol, entre outros. A substituição do açúcar por adoçantes tem como objetivo obter produtos alimentares com sabor doce e menos calorias. Por exemplo, enquanto que um iogurte açucarado tem, por 100g, cerca de 12 a 13g de açúcar e 70 kcal, um iogurte com adoçante e sem açúcar adicionado tem cerca de 3 a 5g de açúcar (correspondente à lactose, o açúcar presente no leite) e 35 kcal. Tendo apenas como base de análise o valor calórico e num contexto de controlo de peso, pode então ser benéfico substituir as versões açucaradas de alguns produtos alimentares pela versão sem açúcar e com adição de adoçantes, desde que o seu consumo seja regrado e contextualizado e não sirva de desculpa para uma ingestão compensatória de alimentos de elevada densidade calórica. Em relação às bebidas refrigerantes, as versões light ou zero oferecem igualmente vantagem a nível calórico: enquanto que uma lata de refrigerante de 330ml contém cerca de 35g de açúcar (equivalente a 5 pacotes de açúcar de 7g cada) e 139 kcal, a versão light tem 0g de açúcar e 1 kcal. Contudo, e apesar de não terem calorias, o consumo de bebidas refrigerante light ou zero deve ser ocasional e regrado e não deve substituir a ingestão de água. A nível de segurança, o consumo de adoçantes autorizados pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) é considerado seguro, desde que dentro das quantidades definidas como sem risco significativo para a saúde. Contudo, atualmente são levantadas algumas questões quanto a potenciais efeitos negativos que os adoçantes não calóricos podem provocar a nível da regulação do apetite e da flora intestinal. Os adoçantes não calóricos têm a capacidade de ativar os recetores do sabor doce, tal como açúcar. Contudo, ao contrário do verificado com o açúcar e restantes macronutrientes, com a ingestão de adoçantes não calóricos não ocorre a estimulação da secreção de algumas hormonas gastrointestinais que têm um papel importante na regulação da ingestão alimentar, através da diminuição do apetite e da diminuição da taxa de esvaziamento gástrico. Para além disso, a ingestão de adoçantes não calóricos parece encontrar-se associada a uma alteração dos sistemas cerebrais de recompensa e de prazer, podendo levar a uma menor ativação destas vias e uma contínua procura de alimentos com sabor doce. Recentemente, tem sido igualmente estudado o potencial impacto dos adoçantes não calóricos na flora intestinal, podendo as alterações na microbiota intestinal estarem associadas a uma desregulação do controlo glicémico. No entanto, a evidência atual é ainda incongruente, sendo necessário mais estudos que clarifiquem os potenciais riscos do consumo crónico de adoçantes não calóricos. Quanto à preocupação do potencial efeito cancerígeno dos adoçantes não calóricos, os estudos em humanos são inconclusivos e não existe evidência que o consumo de adoçantes aumente o risco de cancro. E a stevia? A Stevia rebaudiana Bertoni é uma planta oriunda da América do Sul, cujas folhas eram utilizadas pelos povos nativos para fins medicinais e para adoçar bebidas. É a partir das suas folhas que são extraídos os glicosídeos de esteviol, como o esteviosídeo, o rebaudiosídeo A e o rebaudiosídeo C, utilizados como adoçantes não calóricos. A sua utilização em alimentos e em bebidas encontra-se autorizada desde 2011 pela União Europeia, após parecer da EFSA quanto à sua segurança. A ingestão diária aceitável, ou seja, a quantidade que pode ser consumida diariamente com segurança durante toda a vida, determinada pela EFSA, é de 4 mg por Kg de peso corporal. Ao contrário do verificado nos restantes adoçantes não calóricos, existe evidência quanto a potenciais benefícios no consumo de glicosídeos de esteviol, nomeadamente no controlo da glicémia em indivíduos com diabetes tipo 2. Em relação aos polióis, estes compostos ocorrem naturalmente em frutas e vegetais, podendo igualmente ser sintetizados, e conferem sabor doce com um valor calórico inferior ao do açúcar: cerca de 2 kcal por grama, em comparação com as 4 kcal por grama de hidratos de carbono. No entanto, o consumo em excesso de produtos alimentares com polióis, como pastilhas elásticas ou barras proteicas, pode ter um efeito laxante. Assim, preferir produtos alimentares com adoçantes ao invés dos seus equivalentes com açúcar pode ser benéfico no controlo de peso, uma vez que permite uma menor ingestão calórica. No entanto, o seu consumo deve ser regrado, contextualizado e moderado, dada a ausência de certezas quanto a um potencial impacto negativo da ingestão crónica de adoçantes no organismo. Mais importante que substituir o sabor doce com as calorias do açúcar por uma alternativa doce e com menor valor calórico, é educar o paladar e dar preferência à ingestão do açúcar naturalmente presente nos alimentos. Swithers S. Not-so-healthy sugar substitutes? Curr Opin Behav Sci. 2016;9:106–110. Ford HE, Peters V, Martin NM, Sleeth ML, Ghatei MA, et al. Effects of oral ingestion of sucralose on gut hormones response and appetite in healthy normal-weight subjects. Eur J Clin Nutr. 2011;65(4):508-13. Green E, Murphy C. Altered processing of sweet taste in the brain of diet soda drinkers. Physiol Behav. 2012;107(4):560–567. Suez J, Korem T, Zeevi D,