Imunidade e a prática de exercício físico
O ser humano é, durante toda a sua vida, invadido por um universo de microrganismos e outros agentes que impõem que os mecanismos de defesa imunológica estejam em constante alerta (1), sendo que, com o avançar da idade, surge um declínio progressivo da função do sistema imunitário (2). Nas últimas décadas, a população dos países desenvolvidos tem vindo a ser cada vez menos ativa e a adotar hábitos cada vez mais sedentários, afetando a qualidade e esperança média de vida. Além de um aumento da obesidade, é notável um aumento da incidência de diversas doenças crónicas, tais como doenças cardiovasculares, pulmonares, alguns tipos de cancro e diabetes tipo II (3). A pratica regular de exercício físico estimula determinados parâmetros, diretamente relacionados com a imunidade celular, levando, por exemplo, à diminuição da inflamação crónica e da imunossenescência nos idosos. Sendo assim, uma pessoa que treine regularmente, a uma intensidade moderada, terá um risco menor de infeção e mais reduzido de desenvolver doenças crónicas, comparativamente a uma pessoa que tem um estilo de vida sedentário (2,3,4). De uma forma simplista, a resposta imunológica compreende essencialmente dois tipos de respostas ou mecanismos para eliminar os microrganismos patogénicos que, por sua vez, são os microrganismos que prejudicam o organismo e o sistema imunitário. Essas respostas são a resposta inata e a resposta adaptativa. Embora sejam mecanismos fundamentalmente diferentes no que toca ao seu método de ação, existe uma sinergia entre ambos, essencial para uma resposta imunológica eficaz (3,5). A resposta inata compreende as barreiras físicas (como a pele), as barreiras químicas (nomeadamente as lágrimas), e também algumas células que facilitam a destruição de corpos estranhos no organismo humano (3,5). A resposta ou mecanismo adaptativo leva à produção de células que detetam e eliminam os microrganismos patogénicos invasores de uma forma mais complexa, quando a resposta inata se demonstra insuficiente (1,5). Este último mecanismo é extremamente importante pois, entre outras coisas, permite a existência de memória imunológica, através da criação de imunoglobulinas ou anticorpos. Assim, uma vez que existe memória da presença do agente patogénico, numa segunda vez que o mesmo entra no sistema imunitário, vai haver uma resposta mais rápida e eficaz. Desta forma, o agente patogénico é rapidamente eliminado, mesmo que a segunda ocorrência ocorra décadas após o primeiro contacto com o sistema imunológico (1,3,5). No entanto, à medida que se envelhece, este mecanismo tende a ter cada vez menos eficácia, levando à diminuição do efeito das vacinas e aumento de infeções (2). As células do sistema imunitário necessitam de comunicar entre si e passar informação, de forma a haver ativação, organização e aumento da resposta imunológica. Para tal, é utilizado um grupo de proteínas, de nome citocinas. Os diversos tipos de citocinas são produzidas por distintas células do nosso organismo e têm um papel muito importante no combate a feridas, vírus, fungos, bactérias e, inclusive, têm capacidade para aumentar a capacidade do sistema imunológico de forma a reconhecer células cancerígenas, considerando-as invasoras (1,3,5,6). O exercício físico induz o aumento da circulação e produção de várias citocinas como consequência da contração muscular, nomeadamente a IL-6 (inter leucina 6). Esta citosina, apesar de inicialmente promover inflamação, como uma primeira resposta do sistema imunitário contra infeção, rapidamente leva ao aumento de citocinas anti-inflamatórias(2,7). Deste forma, compreendemos que a prática de exercício físico regular pode levar a uma melhoria da resposta do sistema imunológico. Deixamos aqui algumas sugestões para inicie rapidamente os seus treinos e fortaleça o seu corpo: Convide um amigo, um colega, um parceiro de treino para iniciarem esta nova fase em conjunto, apoiarem-se e motivarem-se mutuamente; Prepare o seu saco de treino e tenha sempre consigo (todos os dias são bons dias para ser ativo); Comece pelas as atividades que gosta mais (lembrar-se do que gostava de fazer/brincar na infância poderá ser um bom ponto de partida); Inicie de forma gradual (comece com pequenos volumes de treino/exercício físico e gradualmente vá aumentando a duração e posteriormente a intensidade); Segurança é essencial para que o inicio dos seus treinos decorra de forma positiva, por isso, recomendamos realizar uma avaliação física inicial junto de um profissional de exercício físico. Além de ficar a conhecer e perceber melhor o seu corpo e estado funcional, ser-lhe-á prescrito um plano de treino individualizado e ajustados as suas especificidades (objectivos, motivações, preferências, necessidades, tempo disponível…); Divirta-se enquanto treina! Sem pressão e sem stress! Apenas aproveite a oportunidade para tratar bem de si! Bons treinos! Referências: (1) Sarrouh, B., Rivaldi, J., Gambarato, B., Santos, D., Silva, S. 2008. Importância das citoquinas no sistema imunológico: propriedades e características funcionais. Analytica. 32. (2) El-Kader, S., Al-Shreef, F. 2018. Inflammatory cytokines and immune system modulation by aerobic versus resisted exercise training for elderly. Afr Health Sci. Vol. 18, No. 120–131. (3) Terra, R., Silva, S. A. G., Pinto, V. S., Dutra, P. M. L. 2012. Effect of exercise on the imune system: response, adaptation and cell signaling. . Rev Bras Med Esporte. V.18, No.3, 208-214. (4) Gleeson, M. 2015. Sports Science Exchange. Vol. 28, No. 151, 1-6. (5) Chaplin, D. 2010. Overview of the Immune Response. J Allergy Clin Immunol. 125(2 Suppl 2):S3–S23. (6) Ramani, T., Auletta, C., Weinstock, D., Mounho-Zamora, B., Ryan, P., Salcedo, T., Bannish, G. (2015). Cytokines: The Good, the Bad, and the Deadly. International Journal of Toxicology, Vol. 34, No. 355–365. (7) Hansen. M. 2010. How exercise benefits the immune system. www.igliving.com.